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... esperar.
Esperar por uma resposta aos currículos que enviamos. Esperar que nos marquem uma entrevista. Esperar que o entrevistador chegue. Esperar por uma segunda entrevista. Esperar que nos chamem para mais uma fase do processo de selecção. Esperar que nos tenham escolhido a nós. Esperar que nos digam algo, nem que seja para nos mandarem à merda.
Esperar = aguardar.
Esperar = ter esperança.
Esperar e esperar.
... não saber.
Não saber se gostaram de nós. Não saber o que fizemos de errado. Não saber se ainda não se decidiram e ainda vão ligar. Não saber se já decidiram e não vão ligar. Não saber se já decidiram, vão ligar, e as notícias vão ser más. Não saber quando parar de esperar e de ter esperança. Não saber o que dizer às pessoas que nos perguntam se há novidades.
Não saber o que vai ser da nossa vida...
... se procuro emprego em funções fora da minha área de estudo (porque nesta altura já estou quase por tudo), é muito frequente ver anúncios que dizem "Habilitações: 12º ano (não se aceitam candidatos com mais habilitações)", e receber e-mails de resposta a candidaturas a dizer basicamente a mesma coisa.
... se procuro emprego numa função dentro da minha área de estudos, o mais normal é já pedirem experiência de 1, 2, 3, 5 anos ou mais. Mesmo que por vezes a oferta seja de estágio (remunerado ou não). Outras vezes pedem mestrado. Outras que seja o primeiro emprego, ou que tenha menos de um ano de experiência.
Acho tão estúpida e antiquada esta ideia que os empregadores têm de que os licenciados vão pedir mais dinheiro só por serem licenciados, ou vão achar-se melhor que os outros, ou ficar insatisfeitos com um trabalho que requer um nível de qualificação inferior ao que possuem e por isso ser um mau trabalhador. E acho que (também) é muito isto que contribui para a chocante taxa de desemprego entre os jovens que o país apresenta actualmente. Pessoas que estudaram, com sacrifício por parte dos pais, e agora vêem-se discriminados por terem mais qualificações. O resultado só pode ser um país em que se estão a aproveitar mal os recursos, onde muitas vezes não se estão a colocar nas funções pessoas que seriam melhores a fazê-las, pelo medo do licenciado.
Há licenciados que já adiaram ou mesmo desistiram da ideia de uma carreira na área em que se formaram, e não querem mais depender de subsídios (quando existentes) ou da mesada dos pais. Jovens que já só querem sentir-se úteis, sair de casa todos os dias com um propósito, sair de casa dos pais, viver, casar, ter filhos, ter um cão, ganhar experiência, viajar, aprender, ter a sua independência, ter alguma dignidade. E não podem por um sem número de razões: ou porque têm qualificações a menos, ou a mais. Experiência a menos, ou a mais. Idade a menos, ou a mais.
... dar por mim a ligar para aqueles números 760 dos programas da tarde para participar em sorteios de carros e ordenados extra. E sentir-me esperançosa e cheia de fé antes do sorteio, e estúpida quando o prémio sai a outra pessoa;
... ter as pessoas que vivem cá em casa a perguntar todos os dias (em certas alturas mais que uma vez por dia) se "há novidades", e começar a imaginar que um dia destes quando eu responder que não mais uma vez me vão fazer um qualquer ultimato;
... começar a odiar toda a decoração da casa, querer mudar tudo e ficar frustrada por não poder. E consequentemente sentir-me desconfortável no sítio onde passo mais (demasiado) tempo.
... sentir-me culpada o tempo todo. Porque nesta fase se tem geralmente tempo de sobra para tudo, e o tudo para mim inclui tentações como ir às compras, fazer refeições fora (tenho uma relação complicada com a cozinha), programas de cultura, etc. Mas a maioria destas coisas custam dinheiro, dinheiro esse que não deveria andar a gastar.
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